Crédito da Imagem: Zé Barbosa
Por Thays Fernanda dos Santos Silva
Relacionamento é um
tema um pouco complicado para discussão, vivê-lo é ainda mais difícil, ainda
mais quando nossas vidas giram em torno disso: nos relacionamos uns com os
outros todos os dias e a forma dessas
relações é que levarão corpos e mentes a convergir, ou não.
Em
nome do Pai é um espetáculo que trata da relação
entre pai e filho após a morte da mãe, figura bem presente na vida dos dois,
cada um com sua particularidade e carga. Durante o desenrolar das cenas, uma disputa
entre pai e filho pelo amor da mãe vai sendo revelada, ao mesmo tempo em que
discutem sobre o peso da perda e sua presença ainda bem viva em cômodos da
casa. Logo na primeira cena, encontram-se pertences da mãe sobre móveis da
sala, ambiente esse que permanece até o fim do espetáculo. A foto em preto e
branco num porta-retrato sobre um móvel centralizado na cena reforça ainda mais
essa presença, aos mesmo tempo em que elementos fúnebres no cenário, como malas
acolchoadas como o interior de caixões servindo como cadeiras, reforçam sua
ausência.
O filho é ator. Sua
sensibilidade, forma de ver o mundo e a impotência diante do pai deixam essa
relação ainda mais conflituosa. A perda da mãe e esposa os faz travar uma
verdadeira batalha de sentimentos, egos. Durante todo o espetáculo, suas
memórias mais íntimas vão sendo reveladas, deixando o clima ainda tenso e
confuso para os dois. Não é nada fácil se expor, ainda mais quando se busca a
reconstrução de algo que parece nem ter sido construído, ou foi, mas não
juntos.
O texto nos causa
reflexões sobre a situação, não só das personagens, mas também nossas diante da
vida. Questionador e divertido ao mesmo tempo, o texto nos faz passear entre o
que é real e o que é cena, aliás, os momentos mais divertidos do espetáculo.
Por ser ator, o filho acaba ensaiando com o pai cenas de uma peça que estuda no
momento e é justo neles que o cenário se torna mais funcional.
As
cadeiras/malas/caixão recebem outros significados, os caixotes como mesa de
centro se transformam em montanhas e tudo o mais que for necessário para nos
aproximar do ambiente proposto. Louças que constroem o lustre no centro da cena
(lindíssimo por sinal), talheres e coisas de cozinha, casam com a sonoplastia e
o ambiente. Tudo remete a casa, ao ambiente de um lar.
A sonoplastia passeia
por um som de Saxofone, tilintar de pratos, talheres, louças que arranham e
guitarras pesadas. Em alguns momentos perdi certas palavras justo pelo som do
Sax, o vizinho músico surgia em algumas cenas e ficou complicado ouvir bem,
causou um estranhamento não muito confortável, a princípio. Ainda sobre os
sons, em um determinado momento, pensei ter ouvido a voz do pai sair da caixa
de som, talvez para reforçar sua superioridade na cena. Ainda assim, penso ter
sido dispensável, o texto e o ator estavam dando conta. Aliás, convincente.
Não conhecia nenhum
outro trabalho do ator Jorge de Paula, possui presença vocal e física, trouxe
mais força para as cenas. Samuel Lira, o filho, teve um bom desempenho, mas acredito
que pela idade e também experiência com o teatro, Jorge tenha ficado um pouco
exposto. Senti seu corpo um pouco armado, tenso, a espera da ação. Mas foi
apenas o segundo dia de espetáculo, tudo ainda há de crescer muito. Samuel é
músico e não conhecia seu trabalho como ator. Muito bom vê-lo em cena, surpreendente
e corajoso.
O espetáculo foi bem
recebido pelo público, houve risos e inquietações. Público esse que questiono.
Para quem o espetáculo é dirigido? O Teatro da Livraria Cultura, o Eva Herz, é
bonito, confortável, mas complicadíssimo de chegar. O Rio Mar é localizado onde
quem não tem veículo próprio, só por muito amor ao teatro mesmo vai. Dois
ônibus e um metrô me levaram até lá e o público foi diferente do que costumo
ver. Pelos corredores fui uma figura curiosa para os frequentadores do local.
Sou defensora da acessibilidade do teatro para todos e deixo meu apelo, na
esperança de tornar a vê-lo em outras casas mais populares, ao público mais
“comum”.
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