quinta-feira, 4 de junho de 2015

A Receita - O Poste Soluções Luminosas

Crédito da Imagem: Divulgação.

Por Ellis Regina Albuquerque de Souza
Pelo fato do dia Mundial do Teatro e do dia Nacional do Circo serem comemorados na mesma data: 27 de março, o SESC/PE promoveu o evento “Semana de homenagem ao Teatro e Circo”, que perpassou pelos SESCs do nosso estado, com atividades durante o mês de março.
O grupo “O Poste Soluções Luminosas” foi um dos que participaram desse evento (para saber mais sobre o grupo acesse: http://oposteoposte.blogspot.com.br/ e/ou sua página do facebook: https://www.facebook.com/oposte.solucoesluminosas ), com seu espetáculo A Receita, que pude conferir no dia 11 de março, no Palco da área de lazer do Sesc Piedade, de forma gratuita.
A Receita tem como diretor, dramaturgo, encenador e figurinista Samuel Santos e, como atriz, Naná Sodré. Com base no que o próprio grupo informa, A Receita teve sua semente plantada com uma cena de 5 minutos, resultado de um trabalho que Naná Sodré construiu junto a Eugenio Barba e Julia Varley, no VI Masters-in-Residence, ocorrida no ano de 2013, em Brasília. Partindo dessa experiência, Samuel e Naná deram continuidade ao trabalho no Recife, com o Apoio do Edital de Ocupação do Teatro Joaquim Cardozo/UFPE, no período de maio a julho de 2014.
Com base em Michael Chekhov e nos princípios da biomecânica, temos nessa obra, considerada tragicômica, o universo da violência doméstica, vivido por muitas mulheres. A atriz Naná Sodré encarna uma mulher anônima e invisível, de aproximadamente 48 anos, em situação de total dependência emocional, casada e com filhos, que passa a maior parte do tempo na cozinha tentando temperar suas ilusões, sejam elas boas ou não, com sal, alho e coentro com cebolinha.
Encenado de maneira intimista, o espetáculo funciona como um espelho, no qual muitas vezes vemos refletir nossas atitudes e comportamentos. Ao redor de Naná, podemos observar alguns elementos que fazem parte do dia a dia da personagem, como o sapato do marido, ingredientes da sua comida que ela prepara todos os dias, perfume de outra mulher, etc. Elementos esses que são marcantes e fundamentais para o entendimento da história.
Com um monólogo forte, A Receita retrata não apenas uma mulher, mas todas que passaram por isso, digo mais, mostra o que vemos e tentamos mascarar... um dos maiores males que temos na nossa sociedade há séculos. A violência doméstica reprime, humilha e mata de forma lenta e dolorosa mulheres de todas as partes do mundo e é justamente isso que Naná nos mostra, baseada na pesquisa do grupo O Poste, mulheres de várias nacionalidades, religiões e culturas distintas.
Na trilha sonora, temos cantos e orações de raízes africanas que se misturam com orações da cultura cristã, construindo uma musicalidade impactante. Naná usa e abusa do seu vigor, do seu contínuo trabalho de construção e reconstrução, casando com as pesquisas desenvolvidas pelo grupo que são voltadas à ancestralidade africana, a fim de resgatar nossas origens, usando o Teatro como instrumento de voz e luta. Temos um bom exemplo de junção da parte técnica sem perder o encantamento da obra. A plateia está maravilhada após esse espetáculo de 45 minutos (por volta disso).
Posterior a apresentação, temos um debate bastante rico, com um público diversificado, formado por homens e mulheres de diversas idades, com diferentes níveis de vivências teatrais. Naná nos responde junto com Samuel ou simplesmente nos ouve, pois além de perguntas temos relatos íntimos de pessoas que passaram ou viram a violência doméstica de perto.

Saio respeitando e admirando ainda mais o Grupo O Poste. Reflito muito sobre esse espetáculo, sobre a condição desumana que muitas mulheres passam em pleno século XXI, percebo o poder que temos nas mãos de informar e fazer nosso papel de mudar a sociedade através da nossa arte. Vida longa ao Grupo O Poste.
OBS: Caso haja alguma alguma restrição quanto ao uso da imagem ou seu conteúdo, favor informar imediatamente a rodrigodourado78@gmail.com

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