segunda-feira, 4 de maio de 2015

BR-TRANS

Crédito da Imagem: Luciane Pires Ferreira

Por Ytalo Santana

“Meu cu para Fernanda Montenegro”, disse Silvero Pereira, ou melhor, Gisele, durante o espetáculo Br – Trans do coletivo As Travestidas dentro da programação da 3º edição do TREMA. Em que enxergo um manifesto não só da valorização das travestis e sim da arte, da transformista da boate que também é uma artista assim como qualquer outro. De maneira alguma a frase inicial quis desmoralizar uma das nossas divas do teatro brasileiro, jamais! Mas se encaixa numa plataforma em que só é ator/atriz valorizado aquele que tem nome, fama, carreira de anos e grande marketing.

12 de abril de 2015, Teatro Hermilo Borba Filho, eu, mero aluno de teatro por motivo pessoal estou ansioso com o espetáculo, já tinha ouvido falar e tive boas referências

Casa lotada, o que gera um pequeno desconforto devido ao pouco calor que fazia e ao fato de não ter mais lugar e ser preciso sentar no chão. Pelo menos havia um acolchoado e a coluna doeu pouco. Ou era isso, ou muitas pessoas ficariam sem prestigiar o espetáculo. E na entrada da grande plateia o ator já estava em cena com um lindo vestido vermelho com uma música de fundo ao vivo vindo de um teclado, tudo durou uns 18 minutos até que todas as pessoas entrassem. A música para, locução sobre o que é permitido no teatro começa, termina, e o artista corrige a locução dizendo que pode sim tirar fotos e filmar, desde que não atrapalhe com flashes e luz vermelha, e use a hastag #brtrans.

“Boa noite”, Silvero Pereira/Gisele prestava bastante atenção à plateia que adentrava naquele espaço, acredito que contaminou bastante e prejudicou um pouco no começo, devido a sua fala um tanto acelerada. Mas conseguiu manter o equilíbrio na fala pouco tempo depois. E eis que nasce uma personagem feminina, espanhola e caricata. Uma energia contagiante, porém a sua fala eu ainda não compreendia muito bem e comecei a observar o cenário; iluminação e sonoplastia, ambas operadas pelo próprio artista em cena.

O cenário era um apartamento bem aconchegante, onde o material para transportar o cenário servia como elemento de cena também, tudo sendo bem aproveitado, um microfone estilo anos 50 no meio, outro pequeno refletor que servirá como um abajur, um abajur próximo ao teclado e objetos decorativos. E sem contar com o recurso tecnológico usado, o slide. Tudo se TRANSformou  numa grande unidade ao redor do artista.

“Quando criança me disseram que se passasse por debaixo de um arco-íris virava mulher, passei minha infância toda procurando um arco-íris.” Frase que apareceu no slide enquanto Silvero cruzava o palco com movimentos performáticos. Quantas e quantas crianças estão em busca desse arco-íris. Algumas têm a sorte grande de ter uma família que compreende e outras infelizmente não, e são ‘demonizadas’ pelos seus pais, irmãos, parentes, amigos... e o manifesto começa, além de ter que enfrentar a sua família, a travesti precisa enfrentar a rua, enfrentar seus medos.

Numa bela explanação, Silvero diz: “Medo da polícia, medo de não ser aceito, medo delas, medo de noções, de  sentimentos desconhecidos, inclusive medo disso agora... ” “Mataram elas!” “Elas são corajosas, elas mostram, vendem ou simplesmente dão.” Junto com esse manifesto um corpo ganhando vida em cena, e eis que começam a surgir imagens de travestis assassinadas, com seus respectivos nomes masculinos e nomes sob os quais eram conhecidas. São 86 crimes cometidos e mostrados ao público. São as meninas mortas, e ele diz: “O universo chora... alguém quem tem que chorar por isso.”. No chão está desenhado uma representação de que ali foram mortas algumas delas, mortas por uma sociedade ignorante.

O marcante desse espetáculo é o fato do ator falar na primeira pessoa, te aproxima mais da história, te deixa mais confortável com o texto. E começou a contar a sua história, de sua luta. E quando um nordestino (cearense que ele é) mostra a força do seu povo e se coloca à frente por uma causa tão nobre, não tem como não se emocionar, e ainda acompanhado de uma boa música, além de todo um trabalho de corpo e voz, o ator começa a cantar a música de Caetano Veloso – Três Travestis, “Três travestis, três colibris de raça, deixam o país e enchem Paris de graça.”

Se desprendendo do foco manifesto, conhecemos Ofélia, e com uma fala já conhecida; no chão ela se apresenta: “Eu sou Ofélia, a mulher que o rio não conservou.” E começa a apagar as imagens (imagens estas que foram criadas no discurso inicial das corajosas que tinham armas apontadas para as suas cabeças sem saber o motivo) dos corpos no chão com uma força no olhar impecável. E como ela mesma disse: “Ofélia sai pra rua vestida em seu próprio sangue.” Aqueles músculos tremendo de dor, de medo, de agonia, de tantos e tantos sentimentos ruins estavam ali, escancarados para nós.

Analisando aquela Ofélia me recordo da música Cordeiro de Nanã: “Fui chamado de cordeiro, mas não sou cordeiro não, preferi ficar calado do que falar e levar não, o meu silêncio é uma singela oração a minha santa de fé.” E principalmente por um elemento visual do cenário que em momento algum foi usado, mas representava a fé tanto da travesti como a da unidade cênica. Uma espécie de mini santuário.

O apagar das luzes pelo próprio ator em cena também é um dos pontos altos, não é um Blackout geral, nem um lento, é com a força das suas palavras, de suas histórias. O escuro representa muito, assim como o claro, arrisco-me a dizer que é a omissão e a libertação respectivamente. Luz acende, música animada. Da caixa que serve para guardar o cenário, surge uma bolsa de plástico transparente. E é dela que surge a história de Marcelly, direto da ‘Disney’ das ruas, dos viadutos, das praças. Marcelly é narrada e sua representação é um abacaxi, junto com ela vem um facão, que é uma freira que ajudaria Marcelly na sua estadia, e sem esquecer-se da polícia que ficou com a parte de cima do abacaxi. Esse momento arranca várias risadas da plateia, travesti não é só sofrimento. E boa parte da plateia ainda participa experimentado o abacaxi que circula entre nós. Doce, amargo.

Assim como escreveu Gisele em seu braço esquerdo, assim que terminou a história de Marcelly escreveu Bruna no seu abdômen, transexual que mora com um rapaz de 22 anos. Bruna faz o papel de que muitas mulheres fazem que é da ‘Amélia’, porém para ela não é algo ruim não, pelo contrário. Quando se aposentar irá se casar. Bruna é sim uma mulher de sonhos! Viva as todas as mulheres transexuais!

Com o jogo teatral do desprendimento é notável outro corpo, o corpo inicial do espetáculo, e Gisele vai até o canto e puxa um espelho, em que o vidro espelhado de verdade não existe para podermos ver o rosto do ator, que faz os gestos vivos de alguém de frente a um espelho. Relatando a sua convivência nesse apartamento, uma situação inusitada, o vizinho de baixo fez uma dedetização em seu apartamento e as baratas subiram e se tornaram suas companheiras.

Enfim, Gisele decide colocar uma música para tocar e avisa que as travestis podem não gostar pelo motivo de não ser música de bater o cabelo. Em inglês, ela puxa a caixa mais uma vez, senta em cima e traduz a letra: “... mas eu não consigo acreditar que deixei o passado para trás... essa parte eu não sei.” (risos da plateia), e no supetão pula em cima da caixa e grita: “LIVRE-SE! LIVRE-SE! LIVRE-SE DELE!” e em meios a risos, a comicidade e dor, ela torna a cena híbrida. “Procurando o paraíso eu encontrei o demônio, em mim eu encontrei o demônio.” Todos nós carregamos um demônio, mesmo negando, pois então livre-se desse peso que você carrega nas costas, não só travestis e transexuais, você que é pessoa também o carrega.

Ao apagar todas as luzes e deixar acessa a da cabeceira, uma leitura de uma carta: “11 de agosto de 1996, meu querido filho...” Se seguirmos a linha Nelson Rodrigues, toda família tem seu podre, tem sua mancha. Talvez ela fosse essa mancha apesar de um pai ignorante: “senta como homem, conversa como homem.” E na escola faz um alerta que infelizmente sabemos que é o motivo de muitos suicídios de crianças homo, trans, “crianças diferentes” para a sociedade. As disciplinas cursadas são: ódio, medo, solidão e EXCLUSÃO. E você é obrigado a fazer, e ainda traz uma discussão contínua ainda, o banheiro. Segundo seu relato ainda na faculdade enfrentou tudo isso e teve uma hora que mandou tudo para “puta que pariu”, “já estava feminina mesmo”, e ainda bem que você teve tal coragem. E assim deu abertura ao seu lado feminino e cantarola: “ser um homem feminino não fere o meu lado masculino...”.

Na perfomance enxerguei muito um professor que tive; os trejeitos, a feminilidade e masculinidade dentro da mesma pessoa e a liberdade aflorada com a mistura dos dois gêneros. Ela conta que conseguiu um emprego numa livraria, mas os clientes não sabiam se era um homem ou uma mulher e o gerente a demitiu. Trabalhou no salão de beleza, mas a dona do salão começou a ter ciúmes e também a demitiu, e sem dinheiro e trabalho, restou à prostituição, e fecha a perfomance. E narra outra história riscando a barriga, Dani. Dani Boy, conheceu no presídio ministrando uma oficina e quando foi embora ganhou um presente, uma almofada que permanece presente também durante todo o espetáculo. Aos que acreditam em “energias”, Dani Boy estava ali naquela almofada. Não era apenas um simples agradecimento por ter se sentido pela primeira vez livre.

E depois de toda essa catarse de convivência no presídio foi parar na noite, porém o seu “boy” tinha ciúmes da sua vida, uma relação turbulenta que só a prejudicou. Essa mistura de “eu” e outras histórias te faz refletir a confusão que é a vida de uma travesti, pois para viver bem a maioria delas vive como imigrantes em sua própria terra, e não foi diferente com ela. Partiu, encontrou uma amiga, uma bicha da boate que a incentivou a ser artista e queria a toda custo que Gisele subisse no palco, ela não acreditava nisso, mas decorou a música e se preparou para o grande momento.

Surge um elemento de cena, dois lençóis branco, um se transforma em vestido e o outro no turbante. Para mim foi o momento mais emocionante do espetáculo, quando nasce uma artista, uma transformista. O caminhar dos braços, o olhar e corpo concentrados naquela música belíssima da Maria Bethânia: “perdoei-me do nome, hoje podes me chamar-me de tua, dancei em palácios, hoje danço na rua.” E volto ao ponto inicial, à valorização desses artistas da dublagem, representação ou imitação. A entrega é arte!

Tyna, do presídio central. “Báh!”, da janela de uma parte do presídio avistava a casa da sua vó e dizia que quando saísse de lá eles teriam que aceitar. A cena acontece em um dos últimos momentos do espetáculo, quando o armário ao lado do piano serve de troca de figurino, narrando a história de lá mesmo, o artista sai com um par de botas que quase chega aos joelhos. E traz também a história de Babi, que tinha um sonho de ser atriz e conheceu um diretor que a convidou para fazer um show em um teatro lotado e uma música forte. As duas histórias são muito corridas, mas têm um caráter significativo justamenta pela música que as encerra, Geni e o Zepelim: “joga pedra na Geni! Joga bosta na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni!” Não tem como não se lembrar da Letícia Sabatella na interpretação da música, inclusive o espelho, o piano e o microfone. Mas se foi uma inspiração, acertou!


Corpo, alma e voz. Sexualidade, travesti. Artistas. Guerreiras. Femininas e masculinas são mães, irmãs, tias, filhas. São mulheres transexuais, são mulheres. Que bom que artistas também lutam por uma sociedade com direitos iguais, com amor. O espetáculo filosófico, reflexivo, formativo cumpre o papel de que teatro é para todos e traz o manifesto da violência verbal, moral e física que todas sofrem diariamente. Infelizmente não vi uma travesti na plateia, talvez até tivesse. Mas existem muitas delas nos palcos das boates, das ruas, das praças, nas festas de animações da vida. Vocês existem e ocupem o espaço que é nosso.

OBS: Caso haja alguma alguma restrição quanto ao uso da imagem ou seu conteúdo, favor informar imediatamente a rodrigodourado78@gmail.com

SISTEMA 25

Crédito da Imagem: Roberto Hildegarhd

Por Doralice Lopes

Inspirado no conto “Inútil Canto e Inútil Pranto pelos Anjos Caídos” do escritor Plínio Marcos, estreou no Recife, depois de quase um ano de ensaios, o Processo –assim chamado pelo grupo - “Sistema 25”, dirigido por José Manoel Sobrinho. Em cena, 25 atores representam a vida de presidiários numa cela superlotada, inclusive por nós, espectadores.

São quase duas horas e meia de muita agonia, muita reflexão, mas também muita risada. Os atores, que participaram do processo de criação do texto, mostram a realidade dos presidiários de uma forma descontraída, mas sem deixar de abranger os casos mais comuns – e, mesmo assim, polêmicos - que ocorrem nesses lugares: violência sexual, prostituição, tráfico de drogas, chantagens entre os presos e, por outro lado, romances e relações de amizade que podem se criar ali dentro. Cada história ali é única, cada preso tem seus motivos para estar ali, uns por uma causa justa e outros não.

“Neste processo o espectador pode sair, tomar água, ir ao banheiro do camarim, sentar no chão, deitar-se onde quiser, dormir, mudar de lugar, fotografar sem flash, falar ao zap, falar com os atores, alongar-se, entrar em cena, cantar junto, dizer poemas, não fazer nada, gritar. Tem gente que tem medo.” Foram as indicações recebidas. De fato, os espectadores, dispostos em círculos, estavam livres para se movimentar como quisessem durante a apresentação, alguns até dançaram no momento em que um tango embalou a cena de romance entre dois presidiários.

A iluminação de Luciana Raposo estava impecável, do começo ao fim fez parte da cena como elemento fundamental para suscitar determinadas sensações ao espectador, além do uso inteligente de adereços alternativos em alguns momentos para iluminar a cena, como isqueiros. Samuel Lira e Thiago Gondim ora assumiam a trilha sonora da cena, ora cumpriram um papel fundamental dando suporte aos personagens que tinham que cantar.

Interessante notar como nós, espectadores, estivemos o tempo todo ali, presos com os detentos, convivendo com eles, entendendo – ou tentando entender - um pouco da realidade desse tipo de lugar. E mais: presos com os atores, acompanhando trocas de roupa, relação com os adereços de cena, com os outros atores e conosco enquanto não estavam no foco da cena propriamente dita.

Alguns personagens – é o caso desses personagens - se mostraram mais que outros, o que se pode considerar um problema, visto que determinados assuntos, que poderiam ser melhor explorados, ficaram sem espaço. Mas por entender que o processo de montagem não esteja terminado, o acréscimo de novas cenas, prolongação ou corte das existentes ainda é possível e está sendo experimentado pelo grupo, acredito que encontrarão a melhor solução para essa situação.

No mais, devo dizer que é provavelmente impossível sair de uma sessão do “Sistema 25” com o mesmo olhar com que entrou acerca do sistema carcerário brasileiro e mundial, como um ambiente onde a relação política é muito determinante não só pelo poder superior em relação aos presidiários, mas na relação entre os próprios presos. E ainda mais, olhar para essa situação de forma crítica e realista, mas em determinado momento enxergar poesia numa relação e noutra, o que foi feito de forma muito consciente e coerente pela equipe. 

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domingo, 3 de maio de 2015

O claro caminho de Clara

Crédito  da Imagem: José  Rodrigues

Por Wellyngson Arruda

O claro caminho de Clara é um espetáculo infantil, produzido como resultado das vivências de pesquisas do Núcleo de Pesquisa de Teatro para a Infância (NUPETI) do Centro Cultural Benfica. A peça discute de modo particular as subjetividades da infância, sendo os personagens desenvolvidos a partir dos relatos da infância dos membros e das pesquisas do universo cognitivo da criança.

Clara dos Anjos é uma criança que quer crescer rapidamente e todo o enredo do espetáculo é pautado no caminho que ela traça em busca desse ‘algo mágico’ que a transforme em adulta e permita que ela seja livre como estes. Para chegar a esse lugar ‘mágico’- onde o rio encontra com o mar -, ela precisa percorrer todo o caminho marginal ao proscênio, um rio coberto de mosaico de tule, que aparenta ser claro, mas na verdade não o é.

Nesta travessia, ela encontra com outros personagens: a Menina, personagem inspirado no relato de uma das atrizes e no livro A menina que roubava livros, que se comunica exclusivamente verbalizando títulos de obras literárias; um Louva-deus antropomorfo que representa a consciência do sujeito, sua razão, lembra o conhecidíssimo Grilo-falante; Simplício Simplório da Simplicidade Simples, que explica tudo em mínimos detalhes, inclusive o que não lhe foi perguntado, dando um tom cômico à encenação e personificando a fase dos ‘porquês’; Dodói sem Sobrenome, personagem hipocondríaco e sempre doente, que nos remete à fase da infância quando, às vezes, fingíamos um mal estar para ficar em casa e que é totalmente submisso a Naída Navolta Revolta, personificação do sentimento egocêntrico da criança.

Além destes personagens, o caminho de Clara vai ficando mais claro quando ela encontra a Curviana, personagem fantástico que simboliza o vento e que, nesta montagem, também auxilia Clara a compreender que tudo tem seu tempo e que seu caminho é, na verdade, voltar para casa, para seus pais e para sua infância.

O espetáculo propõe uma atmosfera lúdica e tem como conceito as poéticas gótica e medieval, ambientando-as nos figurinos, nos cenários e na sonoplastia de forma perceptível e harmoniosa. As tapadeiras representam vitrais de catedrais, como a de Notre Dame, em que os atores fora de cena, executam a sonoplastia e os efeitos de cada cena. Vale ressaltar que estes vitrais longilíneos e verticais, quando banhados pela luz dos refletores, transmitem a atmosfera de cores e sentimentos que se refletem nos figurinos das personagens.

O texto simples e carregado de signos abstratos trata de uma metáfora sobre os momentos em que as crianças estão apenas tentando descobrir os porquês do mundo e da vida. O que nos leva a perceber que a idade de Clara não é determinada, considerando que as crianças possuem várias fases nas quais a vontade e o medo de crescer se mesclam com os momentos de egocentrismo e de coragem de tentar coisas novas. Dessa forma, o espectador compreende a peça de acordo com sua bagagem experiencial, seja uma criança que observa e se vê em cena ou um adulto que reflete sobre sua trajetória. É um espetáculo que está em processo e a reflexão do público, assim como as interações das crianças, demonstram um futuro animador para ele.

Apesar de não ser um consumidor assíduo do gênero teatral infantil, acredito que é interessante assistir um espetáculo no qual se nota a evidência de pesquisa atrelada a um resultado estético satisfatório. Consegui lembrar de momentos de minha infância e de minha juventude, nos quais o medo, ainda que infundado, parece ser tudo que existe e também que o acolhimento é sempre bem vindo como no encontro de Clara e Curviana que arremata a virada no enredo e demonstra o entendimento de Clara sobre a necessidade de passar e aproveitar cada um dos momentos mágicos da vida.

Para saber a opinião dos espectadores e melhorar a satisfação do público futuro, o elenco realiza mediações no final do espetáculo, tanto por uma ficha quanto pelo diálogo com a platéia, mostrando o seu desejo na aproximação entre as partes e demonstrando que o crescimento é almejado por eles. Por tudo, isso acredito na proposta do espetáculo e espero que o grupo continue trabalhado em seu desenvolvimento, pois com tamanha abrangência de signos, sentimentos e lembranças do variado público, fica clara a possibilidade de uma maior organicidade na montagem e, portanto, de melhoria na sua qualidade.

OBS: Caso haja alguma alguma restrição quanto ao uso da imagem ou seu conteúdo, favor informar imediatamente a rodrigodourado78@gmail.com