Inspirado no conto “Inútil Canto e
Inútil Pranto pelos Anjos Caídos” do escritor Plínio Marcos, estreou no Recife,
depois de quase um ano de ensaios, o Processo –assim chamado pelo grupo -
“Sistema 25”, dirigido por José Manoel Sobrinho. Em cena, 25 atores representam
a vida de presidiários numa cela superlotada, inclusive por nós, espectadores.
São quase duas horas e meia de muita agonia,
muita reflexão, mas também muita risada. Os atores, que participaram do
processo de criação do texto, mostram a realidade dos presidiários de uma forma
descontraída, mas sem deixar de abranger os casos mais comuns – e, mesmo assim,
polêmicos - que ocorrem nesses lugares: violência sexual, prostituição, tráfico
de drogas, chantagens entre os presos e, por outro lado, romances e relações de
amizade que podem se criar ali dentro. Cada história ali é única, cada preso
tem seus motivos para estar ali, uns por uma causa justa e outros não.
“Neste processo o espectador pode sair,
tomar água, ir ao banheiro do camarim, sentar no chão, deitar-se onde quiser,
dormir, mudar de lugar, fotografar sem flash, falar ao zap, falar com os
atores, alongar-se, entrar em cena, cantar junto, dizer poemas, não fazer nada,
gritar. Tem gente que tem medo.” Foram as indicações recebidas. De fato, os
espectadores, dispostos em círculos, estavam livres para se movimentar como
quisessem durante a apresentação, alguns até dançaram no momento em que um
tango embalou a cena de romance entre dois presidiários.
A iluminação de Luciana Raposo estava
impecável, do começo ao fim fez parte da cena como elemento fundamental para
suscitar determinadas sensações ao espectador, além do uso inteligente de
adereços alternativos em alguns momentos para iluminar a cena, como isqueiros.
Samuel Lira e Thiago Gondim ora assumiam a trilha sonora da cena, ora cumpriram
um papel fundamental dando suporte aos personagens que tinham que cantar.
Interessante notar como nós,
espectadores, estivemos o tempo todo ali, presos com os detentos, convivendo
com eles, entendendo – ou tentando entender - um pouco da realidade desse tipo
de lugar. E mais: presos com os atores, acompanhando trocas de roupa, relação
com os adereços de cena, com os outros atores e conosco enquanto não estavam no
foco da cena propriamente dita.
Alguns personagens – é o caso desses
personagens - se mostraram mais que outros, o que se pode considerar um
problema, visto que determinados assuntos, que poderiam ser melhor explorados,
ficaram sem espaço. Mas por entender que o processo de montagem não esteja
terminado, o acréscimo de novas cenas, prolongação ou corte das existentes ainda
é possível e está sendo experimentado pelo grupo, acredito que encontrarão a
melhor solução para essa situação.
No mais, devo dizer que é provavelmente
impossível sair de uma sessão do “Sistema 25” com o mesmo olhar com que entrou
acerca do sistema carcerário brasileiro e mundial, como um ambiente onde a
relação política é muito determinante não só pelo poder superior em relação aos
presidiários, mas na relação entre os próprios presos. E ainda mais, olhar para
essa situação de forma crítica e realista, mas em determinado momento enxergar
poesia numa relação e noutra, o que foi feito de forma muito consciente e coerente
pela equipe.
OBS: Caso haja alguma alguma restrição quanto ao uso da imagem ou seu conteúdo, favor informar imediatamente a rodrigodourado78@gmail.com
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