quinta-feira, 4 de junho de 2015

Quem matou Astrogildo?

Crédito: Divulgação do Espetáculo.

Por Crystoffer Guimarães Pereira Coutinho

Vamos indagar sobre Quem matou Astrogildo?, mas, antes, um breve resumo sobre esse espetáculo. O Coletivo Beltane montou a peça Quem matou Astrogildo?, que fez temporada no Teatro Valdemar de Oliveira. A comédia – a terceira produzida pelo coletivo teatral de dois anos – conta a disputa de quatro travestis para desvendar a morte de um amor em comum. No elenco estão Adimilson Campos (autor do texto), Angelis Nardelli, Aurélio Lima, Jefferson Nascimento e João Victor Alves.

Durante o espetáculo me vieram várias perguntas: Astrogildo existe na realidade?  Se é que ele existe, será que ele realmente foi morto? Afinal de contas, Astrogildo é um homem, uma mulher, ou outra travesti? No decorrer da peça, algumas hipóteses iam aparecendo, e, ao final do espetáculo, os espectadores puderam ter as suas respostas sobre quem foi o assassino de Astrogildo.

A peça gira em torno da busca pelo assassino de Astrogildo, que é o grande amor de vida das travestis (Georgina, Doroteia, Carmelita e Berenice), porém durante as investigações individuais de cada personagem, elas percebem que as outras podem ser as culpadas, ou até mesmo todas podem ser culpadas, o problema é que nenhuma das quatro lembra-se de nada, mas todas têm em mãos uma suposta arma do crime: elas são viúvas ou são as assassinas?

A comédia acontece a principio em uma sala de estar, uma recepção de uma pousada, onde se encontram quatro poltronas, uma mesinha de centro, uma mesa e sobre ela um rádio antigo, no fundo do palco grandes cortinas azuis e brancas. A iluminação e a sonoplastia, do começo ao fim do espetáculo, caminham juntas. Em momentos mais agitados, a iluminação também acompanhava o ritmo, da mesma forma nos momentos mais tensos e de suspense. Sobre os figurinos, podemos dizer que todos foram dignos de boas travestis, mas cada figurino coincidia com a personagem, por exemplo, Doroteia é uma travesti mais malandra, esperta, mas apimentada, com um estilo mais escrachado; já carmelita é uma travesti mais velha, que usa roupas mais compostas, mas que na hora de expressar seus desejos, ela ousa e mostra o que ela guarda em si, sua sexualidade e suas vontades.

A partir do momento em que Doroteia (JeffersonNascimento) entrou no palco e gritou “Ô DE CASA!”, vieram imediatamente à minha cabeça as características de um personagem típico, que é a maravilhosa travesti nordestina “barraqueira”, que provocou muitas risadas. Durante o decorrer da peça, os atores interagiam bastante com o público, mas principalmente Jefferson. Entre os momentos de interação, houve um de mais relevância, quando todas as travestis saem do palco e vão à platéia em busca Astrogildo, olhando os homens, fazendo perguntas e afirmando para os demais que os homens que elas encontraram são Astrogildo.  Nisso, a platéia cai na risada, principalmente as pessoas que foram abordadas e acusadas de ser Astrogildo. Além de rir, elas ficam algo estranhas, talvez com o contato, ou quem sabe até porque naquele momento saibam que também estão fazendo parte do espetáculo. Nas falas das personagens, estão presentes, músicas, lugares, acontecimentos que existem e fazem parte da nossa atualidade.

Já perto do fim do espetáculo, podemos ter novas visões e concepções da dramaturgia, pois descobrimos que todas são loucas, e que a pousada não é nada mais nada menos do que um hospício, e que todas elas vivem seus romances, suas aventuras, seus assassinatos em seus psicológicos, e que Astrogildo não passa de um ser que se aproveita de todas fazendo aumentar ainda mais suas loucuras.


Quem matou Astrogildo? é uma peça que me agradou bastante, não por ser apenas uma comédia, mas por ser uma comédia que me fez pensar, não sei se fez a todos, mas a mim fez, saí do teatro pensando: nós somos assim, idealizamos coisas, pessoas, objetivos, sem ao menos saber se eles são reais, e que nos fazem agir como loucos, e até nos fazem cometer erros. Então, não sei se essa foi a proposta do autor ou do grupo, mas me fez refletir. 

OBS: Caso haja alguma alguma restrição quanto ao uso da imagem ou seu conteúdo, favor informar imediatamente a rodrigodourado78@gmail.com

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