Crédito: Divulgação do Espetáculo.
Por Crystoffer Guimarães Pereira Coutinho
Vamos indagar sobre Quem matou Astrogildo?, mas, antes,
um breve resumo sobre esse espetáculo. O Coletivo Beltane montou a peça Quem matou Astrogildo?, que fez temporada no Teatro
Valdemar de Oliveira. A comédia – a terceira produzida pelo coletivo
teatral de dois anos – conta a disputa de quatro travestis
para desvendar a morte de um amor em comum. No elenco estão Adimilson
Campos (autor do texto), Angelis Nardelli, Aurélio Lima, Jefferson Nascimento e
João Victor Alves.
Durante o espetáculo me vieram várias perguntas: Astrogildo
existe na realidade? Se é que ele
existe, será que ele realmente foi morto? Afinal de contas, Astrogildo é um
homem, uma mulher, ou outra travesti? No decorrer da peça, algumas hipóteses
iam aparecendo, e, ao final do espetáculo, os espectadores puderam ter as suas respostas
sobre quem foi o assassino de Astrogildo.
A peça gira em torno da busca pelo assassino de Astrogildo,
que é o grande amor de vida das travestis (Georgina, Doroteia, Carmelita e Berenice), porém durante as investigações individuais de cada
personagem, elas percebem que as outras podem ser as culpadas, ou até mesmo
todas podem ser culpadas, o problema é que nenhuma das quatro lembra-se de
nada, mas todas têm em mãos uma suposta arma do crime: elas são viúvas ou são
as assassinas?
A comédia acontece a principio em uma sala de estar, uma
recepção de uma pousada, onde se encontram quatro poltronas, uma mesinha de
centro, uma mesa e sobre ela um rádio antigo, no fundo do palco grandes
cortinas azuis e brancas. A iluminação e a sonoplastia, do começo ao fim do
espetáculo, caminham juntas. Em momentos mais agitados, a iluminação também
acompanhava o ritmo, da mesma forma nos momentos mais tensos e de suspense. Sobre
os figurinos, podemos dizer que todos foram dignos de boas travestis, mas cada
figurino coincidia com a personagem, por exemplo, Doroteia é uma travesti mais
malandra, esperta, mas apimentada, com um estilo mais escrachado; já carmelita
é uma travesti mais velha, que usa roupas mais compostas, mas que na hora de
expressar seus desejos, ela ousa e mostra o que ela guarda em si, sua
sexualidade e suas vontades.
A partir do momento em que Doroteia (JeffersonNascimento) entrou no palco e gritou “Ô DE CASA!”, vieram imediatamente à
minha cabeça as características de um personagem típico, que é a maravilhosa
travesti nordestina “barraqueira”, que provocou muitas risadas. Durante o decorrer
da peça, os atores interagiam bastante com o público, mas principalmente
Jefferson. Entre os momentos de interação, houve um de mais relevância, quando
todas as travestis saem do palco e vão à platéia em busca Astrogildo, olhando
os homens, fazendo perguntas e afirmando para os demais que os homens que elas
encontraram são Astrogildo. Nisso, a
platéia cai na risada, principalmente as pessoas que foram abordadas e acusadas
de ser Astrogildo. Além de rir, elas ficam algo estranhas, talvez com o
contato, ou quem sabe até porque naquele momento saibam que também estão
fazendo parte do espetáculo. Nas falas das personagens, estão presentes, músicas,
lugares, acontecimentos que existem e fazem parte da nossa atualidade.
Já perto do fim do espetáculo, podemos ter novas visões e
concepções da dramaturgia, pois descobrimos que todas são loucas, e que a
pousada não é nada mais nada menos do que um hospício, e que todas elas vivem
seus romances, suas aventuras, seus assassinatos em seus psicológicos, e que
Astrogildo não passa de um ser que se aproveita de todas fazendo aumentar ainda
mais suas loucuras.
Quem matou Astrogildo? é uma peça que me agradou bastante, não por
ser apenas uma comédia, mas por ser uma comédia que me fez pensar, não sei se
fez a todos, mas a mim fez, saí do teatro pensando: nós somos assim,
idealizamos coisas, pessoas, objetivos, sem ao menos saber se eles são reais, e
que nos fazem agir como loucos, e até nos fazem cometer erros. Então, não sei
se essa foi a proposta do autor ou do grupo, mas me fez refletir.
OBS: Caso haja alguma alguma restrição quanto ao uso da imagem ou seu conteúdo, favor informar imediatamente a rodrigodourado78@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário