quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Bizarro Sonho de Steven

Crédito da Imagem: Paulo Fuga.
Por Gabrielle Suamy Gomes Campelo
O Bizarro Sonho de Steven é deveras intrigante e confusa, não é o tipo de peça que alcança a todos e em que o objetivo da direção fica claro de imediato (aliás, em que peça isso ocorre?). A peça conta com três personagens: O Palhaço Susxto, a Srta. Puta e o Aleijado. Todos eles personas, alter-egos de uma mesma mente doente e insana, todos partilhando deuma única loucura, loucura essa ao mesmo tempo semelhante e diferente. A peça esta rodando desde 2012 e é resultado de uma criação coletiva do Grupo de Teatro Facetas, Mutretas e Outras Histórias (RN).
O espetáculo busca colocar contra a parede tudo que nós consideramos confortável, cômodo, ele busca sempre nos tirar da nossa zona de conforto, trazendo uma sensação de agonia, impaciência, cansaço. Tudo no espetáculo ajuda a dar um ritmo e uma cara agoniante e esquizofrênica.
A sensação imediata ao se entrar na sala onde o espetáculo ocorre é de desconforto. Não há assentos, cadeiras, nem mesmo pequenas almofadas para o publico se sentar, durante todo o espetáculo ficamos em pé, e se nos agachamos ou sentamos no próprio chão somos imediatamente instruídos a nos levantarmos. Eles buscam, a meu ver, colocar em cheque a posição do espectador, tradicionalmente passivo, confortável, acomodado. Se o objetivo era o desconforto a peça se saiu muito bem.
Um ponto que achei muito interessante foi a TV, é um detalhe pequeno, que só aparece durante os momentos iniciais da peça, mas a forma como ela interage com o público e depois como os atores interagem com o público através dela é algo que considero importante pensar. Outra coisa que o espetáculo busca colocar em xeque, a interação, o contato, o contraste teatro/TV. Podemos ainda interpretar a TV como um disseminador da loucura, desse agoniante sonho, que em determinado momento sai da tela e nos encarra olho no olho, muito mais próximo do que a maioria das pessoas consideraria confortável.
A peça brinca com os conceitos de ID, Superego e Ego, sendo as personagens uma representação de cada uma dessas facetas da mente humana. Tenta mostrar dessa forma como nosso inconsciente é presente e como nós somos inconscientes de sua influência e de sua presença.
A peça está toda envolta em um clima de alucinação, sonho, ou melhor, pesadelo, daqueles que não te deixam brechas para escapar. Mergulhante na mente lúcida de um louco, em que as coisas vão tomando forma aos poucos, mostrando como nossos pensamentos e medos são materializados, deixando de ser apenas abstrações de nossas cabeças para se tornar algo concreto. A representação disso na peça é a moto, que vai tomando forma aos poucos, primeiro é apenas um guidão com um faroul e quando nos damos conta temos uma moto real atropelando o Aleijado.
Um dos elementos da peça que mais me intrigou foi a boneca que sempre acompanhava a Srta. Puta, era como um quarto elemento, quase como um quarto personagem. Se os personagens representavam um Ego, ID e Super Ego doentes e problemáticos, a boneca era um último resquício de sanidade, realidade, sem voz, inerte, manipulada e quase completamente destruída pelos seus companheiros doentes e insanos.

Por fim, é uma peça complexa, complexa até demais, o que deixa a maioria dos espectadores confusos. O desconforto e a agonia em vez de causar uma reflexão acaba, para muitos, se resumindo ao desconforto, a agonia e só, gerando em alguns casos repulsa. A peça se torna extremamente interessante para quem consegue tirar algum conceito e entendimento dela, e ainda há aqueles que apesar de conseguir tirar um entendimento ficam tão desconfortáveis que nem assim conseguem tirar algum prazer da experiência. Isso, infelizmente, acaba por fazer que a peça atinja um número pequeno de pessoas e um número também pequeno de quem consegue tirar algum gosto pelo espetáculo.
OBS: Caso haja alguma alguma restrição quanto ao uso da imagem ou seu conteúdo, favor informar imediatamente a rodrigodourado78@gmail.com

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