quinta-feira, 4 de junho de 2015

Na Beira - Teatro de Fronteira


Crédito da Imagem: Ricardo Maciel.

Por Maria da Paixão Andrade Félix Vieira

Há um tipo de teatro que quebra com o espaço tradicional de apresentação de teatro em palco italiano para ser representado em casa com o nome de “teatro domiciliar”, um exemplo desse tipo de apresentação é o espetáculo recifense Na Beira, um monólogo autobiográfico feito pelo ator Plínio Maciel, representado em sua casa e dirigido pelo teatrólogo Rodrigo Dourado.

Primeiramente há um acolhimento dos espectadores com um lanche e com a música “Hino a Surubim” que está relacionada ao monólogo, já que foi nessa cidade do interior que o ator nasceu e se criou e que, portanto, tem grande importância na sua biografia. Quem nunca participou desse tipo de espetáculo talvez se sinta um pouco tímido ao entrar na casa de um desconhecido e se relacionar ombro a ombro com outras pessoas, mas é essa intimidade que dá um brilho único a essa forma de fazer teatro, no qual barreiras são quebradas e no qual, também, há a preocupação em fazer com que o espectador se sinta “em casa”, permitindo-se para esse novo tipo de experiência.

Começa a peça quando se baixa a música e uma luz, controlada pelo ator, é posta sobre o balcão da mesa da cozinha, dando a impressão de uma tela recortada da própria realidade. Plínio Maciel inicia, então, a sua contação de histórias servindo-se de objetos que remontam à sua memória de menino do interior de Pernambuco. A simbologia dos objetos e o tom saudoso do ator proporcionam à peça um minimalismo lindo, capaz de fazer o espectador pensar na sua própria infância por meio dessas lembranças tão detalhadas, muitas vezes cômicas, e de uma nuance quase que ingênua.

Depois o ator vem para frente do público de 24 pessoas na sua sala de estar e toma um lugar de igual para igual, como se estivéssemos em uma roda de amigos, dando continuidade, assim, com a narração dos seus feitos de criança e usando mão de fotografias e objetos como provas da verdade de suas falas. O espetáculo é calcado na memória desse contador de histórias nato que entra em contato direto com o público, fazendo, com a participação ativa do espectador, de sua casa um ambiente familiar para todas aquelas pessoas inicialmente estranhas.


O espectador sai da apresentação com uma nova experiência sensorial e com certo carinho pelo ator que faz comédia da sua própria história. A intimidade obtida durante as horas da peça cria uma energia de comodidade e sentimentalismo entre todos da sala, que se entreolham e criam laços invisíveis no decorrer da peça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário