Crédito da Imagem: Ricardo Maciel.
Por
Maria da Paixão Andrade Félix Vieira
Há
um tipo de teatro que quebra com o espaço tradicional de apresentação de teatro
em palco italiano para ser representado em casa com o nome de “teatro
domiciliar”, um exemplo desse tipo de apresentação é o espetáculo recifense Na Beira, um monólogo autobiográfico
feito pelo ator Plínio Maciel, representado em sua casa e dirigido pelo
teatrólogo Rodrigo Dourado.
Primeiramente
há um acolhimento dos espectadores com um lanche e com a música “Hino a
Surubim” que está relacionada ao monólogo, já que foi nessa cidade do interior
que o ator nasceu e se criou e que, portanto, tem grande importância na sua
biografia. Quem nunca participou desse tipo de espetáculo talvez se sinta um
pouco tímido ao entrar na casa de um desconhecido e se relacionar ombro a ombro
com outras pessoas, mas é essa intimidade que dá um brilho único a essa forma
de fazer teatro, no qual barreiras são quebradas e no qual, também, há a
preocupação em fazer com que o espectador se sinta “em casa”, permitindo-se
para esse novo tipo de experiência.
Começa
a peça quando se baixa a música e uma luz, controlada pelo ator, é posta sobre
o balcão da mesa da cozinha, dando a impressão de uma tela recortada da própria
realidade. Plínio Maciel inicia, então, a sua contação de histórias servindo-se
de objetos que remontam à sua memória de menino do interior de Pernambuco. A
simbologia dos objetos e o tom saudoso do ator proporcionam à peça um
minimalismo lindo, capaz de fazer o espectador pensar na sua própria infância
por meio dessas lembranças tão detalhadas, muitas vezes cômicas, e de uma
nuance quase que ingênua.
Depois
o ator vem para frente do público de 24 pessoas na sua sala de estar e toma um
lugar de igual para igual, como se estivéssemos em uma roda de amigos, dando continuidade,
assim, com a narração dos seus feitos de criança e usando mão de fotografias e objetos
como provas da verdade de suas falas. O espetáculo é calcado na memória desse
contador de histórias nato que entra em contato direto com o público, fazendo,
com a participação ativa do espectador, de sua casa um ambiente familiar para
todas aquelas pessoas inicialmente estranhas.
O
espectador sai da apresentação com uma nova experiência sensorial e com certo
carinho pelo ator que faz comédia da sua própria história. A intimidade obtida
durante as horas da peça cria uma energia de comodidade e sentimentalismo entre
todos da sala, que se entreolham e criam laços invisíveis no decorrer da peça.
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